Pressentimeto de morte

Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

Vinicius de Moraes

A morte parece menos terrível quando se está cansado.

Simone de Beauvoir

O amor sem esperança não tem outro refúgio senão a morte.

José de Alencar

O fim da esperança é o começo da morte.

Charles de Gaulle

O oposto da vida não é a morte: é a repetição.

Geraldo Eustáquio de Souza

Ninguém ousa dizer adeus aos seus próprios hábitos. Muitos suicidas detiveram-se no limiar da morte ao pensar no café onde vão todas as noites jogar a sua partida de dominó.

Honoré de Balzac

Feliz serás e sábio terás sido se a morte, quando vier, não te puder tirar senão a vida.

Francisco de Quevedo

A morte é de fato o fim, no entanto não é a finalidade da vida.

Michel de Montaigne

Para aplicar a pena de morte, a sociedade deveria ostentar a autoridade moral de não ter contribuído em nada para fabricar esse criminoso.

Evaristo de Moraes Filho

Devemos chorar as pessoas à nascença, e não aquando da sua morte.

Barão de Montesquieu

Todos os dias vão em direção à morte, o último chega a ela.

Michel de Montaigne

O avarento gasta mais no dia da sua morte do que gastou em dez anos de vida, e o seu herdeiro mais em dez meses do que ele na vida inteira.

Jean de la Bruyere

O temor da morte é a sentinela da vida.

Marquês de Maricá

Condenados à morte, condenados à vida, eis duas certezas.

Alfred de Vigny

A vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal.

Machado de Assis

Está morto: podemos elogiá-lo à vontade.

Machado de Assis

O homem começa a morrer na idade em que perde o entusiasmo.

Honoré de Balzac

Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar…

[Trecho do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas]

Machado de Assis

Só deixarei de ter amar quando
O véu da morte cobrir minha face,
Mesmo assim nascerá em minha sepultura
Uma rosa em cujas pétalas,
De sangue, estará escrito: Amo você!

Vinicius de Moraes

A Procura da Poesia

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

Carlos Drummond de Andrade

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